noites de urgência, a primeira




...como estudante de medicina, merece registo. Não que a memória a acabe por esquecer, (o que também pode acontecer), mas pela substância do que soa ignorante e ressoa face a outros toques humanos de subtileza íngreme.




Não víamos dor no peito que não fosse enfarte do miocárdio, sons auscultatórios anormais que não encaixassem nos esquemas memorizados, ou outras sintomatologias que fugissem aos conteúdos teóricos que já passearam pelos livros devorados. E vibrávamos com os quadros de pior prognóstico, com os diagnósticos rebuscados a lembrar as séries de TV. No fundo, quanto pior, melhor. A lima do tempo e a lima de uma inteligência sensível marcaram ausência.


Neste momento devemos ter esse direito - o de ver apenas até onde a ignorância e a falta de experiência capacitam. Até porque o percurso ainda se faz pela metade. E sabemos bem que para já aprendemos, logo virá o tempo em que ou desaprendemos ou permanecemos na ignorância. Mas isto não deixou de me fazer pensar até que ponto podemos ser tão cegos, tão debilitados para ver o óbvio apenas porque estamos sintonizados com dogmas do absurdo muito bem colados à mente e ao espírito. Cegos, ignorantes, incapazes de conceber o que escapa ao campo de visão.

Mas aprendemos. Contactamos, observamos, reflectimos. E por algum lado haveríamos de começar…

imagem: www.imotion.com.br/.../media/52/housecrew.jpg

2 comentários:

  1. gostei que tivesses pontuado o discurso com um «por algum lado haveríamos de começar», um leve sorriso irónico com tanto de conformado como de irreverente.

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  2. que boa leitura nas entrelinhas das reticências não ditas :)

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