A Carta


Remetente: Casa de Sonhos
Destinatário: À procura de um ideal

A carta chegou logo no dia seguinte.
Não devo saber ainda como agradecer a urgência das palavras que desenham o afecto, mas devolvi a resposta assim que encontrei uma caixa de correio por perto. Gosto deste ritual. Do cheiro a sinceridade na tinta do papel, da humildade em cada pensamento embutido nos factos partilhados. E arrepia-me pensar que às vezes um e-mail ou uma mensagem de telemóvel ficam suspensos só porque não apeteceu, quando sinto o tacto nas ranhuras de um postal feito com as mesmas mãos que o desenharam:

“Só quem tem um ideal encontra razões para viver.“

Na memória que o seu nome me oferece, a Maria vive numa Casa de Sonhos. O lugar onde a amizade se escreve com letra maiúscula, e onde a fé reside à cabeceira da alma, só pode ser uma Casa de Sonhos. E não deixa de ser também uma Escola de Medicina, aqui onde as limitações são constantes; aqui onde a morte acontece mesmo ao lado da vida que se celebra. Aqui onde se aprende o valor de cuidar dos eternos residentes que serão para sempre.

“Hoje em dia tem que se lutar muito pelo que queremos”, lembra-me.

Escuto e escrevo. Sei das lutas e do sofrimento, sei da mágoa e do vazio. E das desilusões. Como sei das pequenas conquistas, dos pequenos nadas. Das palavras que transportam o silêncio e o olhar dos que estão de bem com a vida.

Celebramos a partilha das palavras ditas, trocamos o sol e vimos o coração fotografar um abraço terno.

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