intermitências da dor



Às vezes consegue-se conter o grito, emudecê-lo e fingir que sim, estamos bem porque não estamos muito mal (ou pior). mas outras vezes apetece mesmo calar os ruídos em cada silêncio, um a um,  e espalmar ranho e lama nas palavras oferecidas ao grito que dói. 

circulares, inúteis, cépticas, as palavras lavadas pelo grito que se faz choro, tinta e papel. 

Mas porque sim. porque os gritos espalmados nem sempre encontram prateleiras no coração. porque o silêncio fingido esgota a alma e inflama a vida. 
a toxicidade oferecida às palavras não é egoísmo, é antes um meio de subsistência. barato e cómodo. 

porque as palavras, 
escutam sem cobrar nada. ouvem sem de imediato abrirem o armário dos conselhos e das sabedorias que não servem para nada. empatizam a alma sofrida sem apontar o dedo às não razões que nutrem a não esperança. (não, ninguém sofre porque quer.)


e as palavras,
sabem sempre o espaço de silêncio que a dor concede a cada grito. enxugando as  lágrimas como quem pontua um parágrafo, 
(antes de virar a página.)


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