The Blind Side

ou Um Sonho Possível, em português fácil.

um drama bem-disposto, que não precisou de uma grande história para fazer passar uma mensagem com conteúdo. A capacidade de se amar e sentir amado como condição necessária a um desenvolvimento e integração harmoniosos; a valorização do compromisso e conhecimento do  outro, os quais conduzem ao sucesso perante as adversidades; a irreverência saudável que dá colorido às atitudes e relações. E em pano de fundo as marcas de uma luta social entre negros e brancos.

Em 128 minutos, a razão e a (não)razão de acreditar nas pessoas, na vida e no destino. E concretizar.

Da consciência ao conflito

Um dia destes falaram-me do Fernando Pessoa consciente da dor de pensar. Pensar é estar doente dos olhos, dizia Caeiro. Na verdade, pensar é uma condição, às vezes necessária e suficiente, para trazer à mente e ao espírito a consciência dos obstáculos, mágoas e fragilidades. E a consciência amplifica a dor, porque a devolve presente (e permanente enquanto dura).

Por outro lado, há quem acredite que longe da vista, longe do coração. Diria antes, longe do coração, longe do pensamento. Porque na verdade, a distância não apaga a consciência, embora contribua para tornar difusas as memórias, porque estas não estão continuamente a ser estimuladas.

Não penso que a atitude de pensar seja errada (e isto é a prova) ou que substitua aquela que respeita ao sentir. Quando muito, é desnecessária, se esperamos que o pensamento resolva, quando neste nada existe de concreto, palpável. Mas não resolvendo pode tornar algo resolúvel. Diz a tradição budista que os pensamentos movem o mundo. Os pensamentos como base e combustível para algo de realizável.

Desnecessária e dolorosa também, se não conseguirmos arrumar a vida em prateleiras estáveis e continuarmos a circular, sem perspectivas de ancorar a história em porto seguro.

Mas apesar de tudo isso, (que não é pouco), pensar contrasta com a atitude impulsiva e por vezes pouco sensível daquele que reage sempre, (defendendo-se dele próprio); é a forma de encontrar as razões que ajudam a fechar gavetas e ajustar os factos e os não factos nas prateleiras; é aquilo que pode permitir amadurecer a mágoa porque confronta o presente com o egoísmo próprio, que esquecemos mais facilmente do que o egoísmo alheio; é, no fundo, o mecanismo interno, abstracto, que leva a razão a escrever o verbo perdoar.

Reformulando: Do conflito à consciência. E desta ao ponto final.
(pensar mal é estar doente. Mas saber pensar é quase sempre motor de vitalidade.)

Nem só de pensamentos vive um blogue

detesto (pseudo-)atitudes embebidas de um carpe diem vazio e disforme.
Mas hoje apetece-me ouvir - days go by - apenas porque sim. 
Faz vento e há estrada... So you better start livin' right now...


Absurdos Sentidos

A vida é tão rara,
entre avanços e recuos, tempos e contra-tempos, em contra-relógio em direcção ao rumo que se sente perdido à priori. Procurar em vão o que queremos, que se revela ser aquilo que a vida não quer. nem pode explicar. nem queremos entender. Dar. ainda que o façamos sem passar factura para que a memória não atraiçoe o que se recebe.
Sem saber, a procurar não deixar de querer não saber. porque às vezes cansa tocar o limite do que é certo, fazer tudo certo, e ver que afinal o rosto e a alma agarrados ao peito jazem isquémicos e vazios. 
Por isso respiro mais fundo, pelo abdómen - respiração completa - para expirar das lágrimas e das mágoas e ficar apenas com o que pode ficar. com o que quero revisitar amanhã quando acordar deste sono de absurdos que sinto, sem sentido. que não consigo crer nem entender.


imagem:http://francoiseterzian.blog.uol.com.br/images/Labirinto.gif

Cultura Entre Culturas

 
Cultura ENTRE Culturas é uma revista semestral dedicada ao diálogo intercultural e a estabelecer pontes e mediações entre todas as disciplinas, saberes e tradições. Publica ensaio, poesia e fotografia. A partir do mês de Abril.

Dialogal entre cultura e saber, religião e espiritualidade, tradição e civilização, entre tal coisa e cada outra coisa, Entre é um âmbito situado, mas não-localizável, entre tempo e eternidade, espaço e vacuidade, palavra e silêncio, discurso e percurso. É o lugar do não-lugar: entre tudo e nada, entre tudo e o quase nada que há em tudo.




estas e outras informações:
http://arevistaentre.blogspot.com/2010/03/cultura-entre-culturas-uma-revista.html

Tratamento da depressão: cuidados primários ou especializados?

não deixa de ser interessante verificar que, dado o estigma e por vezes a ignorância, no que refere à doença depressiva, bem como a existência de recursos, ao nível das USFs, não especializados mas suficientemente qualificados,  o tratamento destas doenças na vertente dos cuidados primários poderá ser tão eficaz como aquele que é feito pelos cuidados psiquiátricos especializados...

Does Depression Matter?

retirado do artigo Keys to Successful Treatment of Depression in Primary Care CME

Thomas L. Schwartz, MD; Ann M. Sweet, RN, BS, NPC

At the outset, clinicians have to realize that major depressive disorder (MDD) is a common illness. MDD is highly comorbid with other common medical conditions and is often chronic in nature. Depressive comorbidity often worsens medical outcomes and increases healthcare utilization. The public health impact of MDD was noted in the Medical Outcomes Study, which determined that depression was more impairing in terms of patient functioning and well-being than arthritis, diabetes mellitus, and hypertension, among others, and is more disruptive for social functioning than all of the chronic medical conditions compared in that study. Moreover, the Global Burden of Disease study suggests that by the year 2020, MDD will be the second leading cause of death and disability worldwide.
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Finally, MDD is likely the most frequently treated psychiatric disorder, and antidepressants may be some of the most frequently written medications in all of medicine. If clinicians fail to understand these initial key facts about MDD, then they will have greater difficulties seeing the reasons behind routine screening for its presence, and employing the eventual corresponding treatment options.
The positive news is that with systematic assessment and treatment, patients respond just as successfully to depression treatment in the primary care setting as in specialized psychiatry practices.

Tatuagens e um mergulho no mar



Simpatizo pouco com aqueles que se debatem pela apologia do sofrimento e menos ainda com os clichés que usam para defender Deus num pseudo-julgamento que ainda ninguém inventou. Já aqui o disse.

No entanto, é inevitável que a vida nos magoe. Como inevitável é por vezes a raiva que corrói a alma e ajuda a apertar o coração de forma circular e absurda. Porque não nos faz bem, nem faz bem àqueles que intersectamos.

Faz-se o luto pela fé que morreu, enterra-se a mágoa e espera-se pela manhã. Para ver o sol nascer com a esperança.

Como quem dá um mergulho sem olhar para trás, um salto no ar só para ver de que se é capaz. Nunca se tem muito a perder.
Tantas coisas por fazer, tantas por inventar.
Mais uma vez*. Levanto-me para ver de que cor é o céu quando está azul límpido. Sem nuvens.
E apenas isso é para já o bastante para ver a noite cair, com um sorriso esboçado no rosto.

(*um mergulho no mar, Xutos & Pontapés)

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A psiquiatria ficcionada


[...]Os hospitais psiquiátricos, instituições de internamento para quem sofre de perturbações mentais graves (dentro de um contexto), são quase sempre representadas com paredes brancas, pouca cor, batas brancas, vestuário uniformizado, coletes de força, cápsulas recusadas, e as pessoas, com movimentos a imitar o absurdo, repetidos, circulares, dentro do seu mundo, intocável sem a pronta resposta da agressividade violentada.

Desvirtua-se a verdadeira realidade psiquiátrica, partindo da qual se constata que grande parte das doenças mentais que no passado davam direito a internamento, hoje têm fármacos como suporte que permitem uma vida sem limitações. Grande parte das pessoas que hoje se sentam, não num divã mas numa simples cadeira, de um consultório psiquiátrico, depois de um dia de trabalho ou estudo, têm perturbações de ansiedade, depressivas, e outras trazem apenas a vida junto ao peito, e o coração frágil nas mãos. Precisam de ser ouvidas.

Provavelmente haverá ainda imensos hospitais como a ficção os descreve. E por isso confesso-me de alguma forma feliz por ter contactado com uma casa de saúde mental em que as residentes vestiam cores e comunicavam como ninguém a facilidade de um abraço, um sorriso ou uma gargalhada. Ali, a força de um abraço crescia exponencialmente.

Com uma condição apenas: alguém para os receber (e devolver).

E havia sofrimento no rosto e na alma. E havia choques eléctricos. E havia recaídas por parte do pessoal auxiliar. E havia quem vestisse de negro da cabeça aos pés. E havia esses movimentos circulares, do discurso, da vida contada e do corpo. E havia coletes de força. 

Vi tudo isso que a ficção mostra. Mas também vi muito mais do que isso. É esse muito mais que sublinho. [clicar em "leia mais" para ver o texto completo.]



Humanismo vs Anarquia

What's wrong with the biopsychosocial model? 
Nassir Ghaemi, MD, Psychiatry/Mental Health, 2010

(..)There are limits to eclectic freedom, and harms from anarchic thinking. I think this is the major problem in current psychiatry, and the BPS model is cause not cure.


uma opinião que gostei de ler,acerca da relevância do modelo bio-psico-social em psiquiatria. 

[ler aqui o artigo completo] 

Quero dizer (do olhar que se faz verbo)

quando viajamos, procuramos assegurar o que nos pertence antes da adaptação ao que é diferente.(disseste-me.)
por outro lado, quando optamos pela transgressão, jogando (apenas) com a distância dos tempos que perturbam a alma, partimos quase sempre da incerteza ditada pelas regras que a vida oferece sem pedir autorização. 
do olhar que entorna o verbo, como quando desenho o sol no vidro húmido, pela manhã. para depois sorrir ao vê-lo desfazer-se em lágrimas..