aqui: emlinhascurvas.blogspot.com
"mudam-se os tempos, mudam-se as vontades."
(Ponto e vírgula)
Ponto. porque faço parágrafo às palavras ditas até hoje,
mudo de linha e inclino a página.
Vírgula, como quem substitui um adeus por um até já. Sem determinar o tempo. Arruma a casa em prateleiras e aspira o pó emprestado aos vazios.
Releio e agradeço a vossa presença constante, a curiosidade intermitente
ou o acaso. Obrigada!
(entre parêntesis, como quem reduz o peso atribuído às histórias que embalam a mão em berços de silêncio)
Podes dizer VIII
Da chave que entregas quando fechas a porta.
(Abril 2010)
Nunca é fácil dizer adeus. E pior ainda quando o que deixamos não nos faz bem. Como o luto quase impossível quando um ente querido parte, deixando vivas as nódoas por resolver. É mais fácil dizer “até um dia destes”, ainda que esse dia nunca chegue. É menos difícil quando não chegamos a dizer que ficaríamos para sempre. É mais fácil entreter a vida com vírgulas e reticências do que exclamar um ponto interrogado ou um ponto de fim.
Mas nem sempre pode ser fácil.
Nem sempre se oferece a possibilidade de descartarmos o compromisso para depois do agora. Sim, dizer adeus implica um compromisso com o trajecto de uma porta que se fecha, embora sejam imensas aquelas que se abrem. Mas há regras.
Li algures que grande parte das nossas frustrações quotidianas se devem à falta de capacidade em nos auto-transgredirmos. Sabemos de cor a frustração perante as contradições, a revolta quando a corrente se desenha perpendicular aos nossos melhores sonhos, bem construídos e acreditados, a tristeza depressiva quando em vez de mudar de direcção ficamos a circular indefinidamente. Porque não conseguimos, porque não queremos, porque não conseguimos querer. Ou aceitar, que nem tudo depende daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
E depois há os mitos, que nem sempre são o tudo que Fernando Pessoa escreveu. Muitas vezes desistir é o mais difícil, e a covardia anda de mãos dadas com aqueles que insistem sem saber persistir. Há regras, mas nem sempre há normas para cumprir. Talvez um dia se diga que há regras sem a excepção de se fazerem seguidas.
Há um espaço e um tempo para acreditar em cada coisa, porque fé e mágoa competem pelo mesmo combustível. Daí a necessidade de inverter os objectivos quando os sonhos rebentam como bolas de sabão incerto.
A sabedoria na idade dos que se dizem sábios pela escola do tempo sempre me intrigou. Não apenas por constatar que o tempo pode perpetuar como acentuar hábitos e convicções que não devolvem vida nem esperança, mas também porque a experiência ou o erro não acontecem em directa proporcionalidade com o batimento do coração ou dos ponteiros do relógio.
Mas se o tempo não é uma condição suficiente para a sabedoria dos que sabem sentir o que vivem e pensam, é talvez uma condição necessária. Porque é preciso tempo para se aprender a escrever com poucas palavras e parágrafos menos extensos. Tempo para experimentar a inocência e ignorância das palavras escritas. Tempo para substituir as imagens e as metáforas por vírgulas ou pontos finais. E tempo também, para aprender o silêncio na página que fica em branco, como quem aprende a escutar o que a vida trouxe sem pontapear as margens, a aceitar sem entender, a teclar com os dedos flectidos para que o ruído não seja tão incómodo.
Tempo, no fundo, para aprender a viver apenas com o tempo que temos e para os que nos têm.
…
Encosto a porta e guardo a chave junto ao peito
Inspiração
precisa-se. urgentemente.
imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtt8TNnGk1cJrwIg_wzwE13wk4UWGjV2nMhIunQvQ0-_xBD2ivzxLTqLfWEqGueCZJaCBPUVoA8NCrkfh8a7bTvemCq3u2N1hlIaUk9JbzH3c9gjKkjNRD14ss0gEM-DDMf24QPZK4aWg0/s1600-h/1712886.jpg
Transparências
ou o nome dado às não-palavras que conseguem dizer:
mais do que aquilo que parecem querer,
mais do que aquilo que parecem dever,
mais do que aquilo que parecem poder,Unplugged
'teachers help the students first to colect all the facts and then to think about them
to forget them'
to forget them'
Pote de alquimias
Há quem diga que é pelo sonho que vamos. Que o verbo concreto dos sonhos improváveis nutre a realidade de causas possíveis.
não sei. mas sonho.
Sonho, porque nem sempre se pode acreditar apenas naquilo que é provável ou sensato.
Sonho, como quem arrisca num xadrez de probabilidades ou agarra a incerteza de uma bandeira de esperança a sacudir os dias cheios de nada.
Sonho, não como quem foge, mas como quem procura encontrar.
Sonho,
trazer aos dias baços a luz imanada de um sonho mais perfeito. A ponte que cruza a história e o depois, a substância concreta ou o fermento que resta quando a vida entorna, sem pedir autorização, o pote das alquimias bordadas em noites de insónia.
imagem:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIhpaxIy_KlN1JedgqczEDrGusBUdZJe7EDPTnBkG3CySAi3KIUb8lZvtC7xwez4LMsWkgC3-s65cuv0ZHyD2trikVvGUQkc_jBiTJatZqGdF5xg3eaqcIcaH_jcLb4ubGkXJQkD43I47B/s1600-h/2658068.jpg
To count on both hands
e alguns dias mais.
cinética estranha, a da espera. quando o tempo se faz próximo.do passado.
ou apenas menos ausente do que aquilo que é perto.
estáticos, o calor e a noite. nem a sudação dos seus os (co)movem.
(que farão com as lágrimas...)
Castelo de legos
Com as palavras construo pontes e castelos, como se de um jogo de legos se tratasse.
Têm cores, os sentidos,
têm lugar, as formas.
Mas é apenas no conjunto que a dimensão se concretiza.
As palavras visito-as por vezes, quando há sentidos que jazem por dizer. E fica por isso, um silêncio barulhento, ruidoso, incómodo, que faz tremer o castelo de legos.
Têm cores, os sentidos,
têm lugar, as formas.
Mas é apenas no conjunto que a dimensão se concretiza.
As palavras visito-as por vezes, quando há sentidos que jazem por dizer. E fica por isso, um silêncio barulhento, ruidoso, incómodo, que faz tremer o castelo de legos.
Consegues ouvir? Inclina a cabeça. Vem do chão, perto da muralha.
Se olhares bem, tem quatro paredes, oito portas e uma janela que a força da corrente já encerrou. Com três cobertores, às vezes ainda faz frio.
Como vês, é mais fácil sair do que ficar. Do lado direito o oxigénio não chega. À esquerda reina um turbilhão denso e ruidoso.
Repito, é mais fácil sair do que ficar. Espreitar e voltar a sair.
Mas vou contar-te um segredo. Baixinho, ninguém nos ouve. A noite está em silêncio há horas. É tarde, deve ter adormecido…
Estou certa, ninguém nos ouve.
Nesse castelo de que te falei existe um acesso secreto. Diz-se que é nesse lugar que se encontra a chave que permite abrir o septo que separa os dois lados. E uma vez aberto, o oxigénio inunda a tempestade que se desfaz em silêncios e, de súbito, as paredes fundem-se com as portas, transformando-se em aquedutos.
A brisa dissipa a muralha, a corrente e o frio.
Dissolve o sonho em pedaços de luz.
Ao coração, hoje chamo-lhe castelo de legos. E visito-o através das palavras. Eternas e fieis, presentes mesmo quando a noite adormece.
Dissolve o sonho em pedaços de luz.
Ao coração, hoje chamo-lhe castelo de legos. E visito-o através das palavras. Eternas e fieis, presentes mesmo quando a noite adormece.
Mosaicos condicionados
Se...
Há vozes que transformam o mundo com apenas um articulador de gramática.
Há quem faça dessas vozes um motor de nada. um catalisador de algo que nunca será.
Se hoje não fosse o dia que é, não seria hoje. Seria outro dia qualquer. Mas nunca o presente, concreto, único, singular, possível.
Se eu fosse outra pessoa, não seria eu. É uma lógica banal. Se eu fosse, tal pedra de calçada, um mosaico de sentidos emprestados, fugiria à responsabilidade única e obrigatória de me fazer eu, ser eu, agir enquanto eu e aquilo que a vida quer que eu seja.
Há quem espere uma vida inteira pela pessoa que seria se a morte não chegasse.
É um jogo arriscado. Porque nem tudo tem que ser experimentado para ser acreditado.
Buraco Negro
entre o equilíbrio oferecido às palavras ditas e a atitude real e concreta face à expectativa, existe um buraco negro.
um deserto e uma linha curva em tracejado.
um sol quente que cega o cansaço do corpo,
quando a noite acontece e tudo parece longe, vago e indefinido.
imagem: http://www.amar-tesomente.blogspot.com/
Um pouco mais de alma
porque o conhecimento não entra em competição com esquemas de tempo em contra-relógio.
a alma.
(mesmo que seja apenas aquela que reside no íntimo das palavras)
Dizem que o coração tem o tamanho de um punho fechado
E quando se abre?
in A Voz do Minho, Maio 2009
(Fiel à hierarquia das memórias, mais um recanto do sótão onde recolho as palavras algures no tempo escritas.)
Se há momentos em que procuro e desenho em geometrias e filosofias a melhor linha para as palavras que aqui vos deixo, outras vezes são os sentidos que se impõem e dominam todo o caminho, trazendo por arraste, dissolvidas na memória do que fica, as palavras, como pedaços de quem dentro se respira.
Porque afinal as páginas que vou agrafando ao tempo pouco mais são do que histórias de quem se parte e partilha, repartindo a vida partida nas palavras ditadas, pela vida.
E é dessas vidas que falo hoje: na imagem de um punho fechado, a alma despida, os afectos, as relações, tudo isto que abrimos em nós para chegar a um outro, e o que desse outro deixamos que escave em nós. Falo de sentidos na razão, na razão como sentido, no sentido das razões. E tudo isto somos nós.
A vida que temos cá dentro, guardada e protegida em forma de medos e incertezas, tem o tamanho do que escutamos e sentimos e nos move, do que pensamos nesse sentido e direcção. Porque as pessoas que passam por nós, e a vida que nos transportam entre pontes e partilhas, em estradas percorridas em comum, lado a lado ainda que esse lado seja apenas o de dentro, não nos deixam sós. Mesmo que o tempo gaste o combustível que move o que nos liga – somos sempre, seres em relação – e fica sempre, entre cavidades e vísceras, a cinza do que foi, os fragmentos revisitados, os cheiros e o sal, as palavras ditadas por um agrafo que se agarra ao coração: de punho fechado a mão aberta e projectada, fica apenas o que somos.
E quem nos ouve, a tinta escorrida de dentro, as palavras e os sentidos expirados ao tempo que passa? Quem nos dá a mão, aberta em aconchego, em forma de quem escava no vazio, a incerteza do que somos? Quem nos desata os nós que foram laços? Quem nos abre a mão, no rumo incerto de que a agarraremos?
Ainda que de punho fechado a mão aberta e projectada fique tudo isto que somos, sabemos bem que esse caminho se faz e constrói na certeza única do incerto, é constante o abismo e bem real a dúvida. Analisamos, arquitecturamos, tentamos rebuscar os sentidos e as razões que mais nos protegem no aconchego do medo, afastamos o inesperado e o âmago da surpresa, asfixiamos o que é, escondido, com ilusões e fantasias num binómio tudo-ou-nada, vagueamos a alma sem respirar, e sentamos a vida ao espelho, até que a imagem fique desfocada e pouco nítida, de tão perto e tantas vezes a olharmos. Nisto das relações, esquecemos sempre, que mais do que o pensamento, às vezes é o tempo dentro das histórias que nos devolve o verdadeiro reflexo, o eco que nasce quando se abre e estende a mão.
Mas afinal, o que perdemos quando se abre a mão desse punho fechado? Faz-se no medo a resposta, pontuada na incerteza do que será. E só no risco pisado se descobre que as relações transcendem e reduzem a geometria da matemática: entre somas e subtracções que multiplicam a dúvida e dividem o silêncio, o que existe transforma-se, e fica sempre, mais longe de nós, mais perto do que somos.
Lutar por desejos e conquistas sós e forçados, não só nos afasta, como reduz e apaga tudo o que nos leva a sair de nós para dar a mão. Devíamos antes ficar perto, quando perto é o abismo ou o leito de uma tempestade, do cavaleiro inteligente que, de mão dada junto ao peito, “solta as rédeas e se deixa guiar pelo instinto do cavalo”.
E das rédeas às palavras, soltam-se os dedos de uma mão trémula.
Em versão de rascunho
a pensar com lápis e borracha,
como quem não conhece a estrada, ou não sabe ler os sinais de trânsito.
sem forma de escrever o que não pode ser dito.
sem sentido, voltar a dizer o que já foi dito.
Uma janela aberta para o rio
entre traços coloridos
e marcadores intersectados pela geometria do acaso,
em silêncio,
as mãos cruzam a vontade e o saber.
e soltam páginas,
abertas de conceitos, mecanismos, relações.
Passa o tempo, e de vez em quando a porta abre-se para a sala,
onde jazem vivos, nas estantes erguidas,
ainda os livros,
depois de tantas mortes.
e depois de tantas horas,
abre-se ainda uma janela para o rio,
D'ouro e concentrado de silêncios.
silêncios que aproximam a certeza do dever cumprido,
que só a noite acolhe
e celebra.
e celebra.
o sonho.
Em quarto crescente - parteII
O céu fechou a lua num telhado sem luz. Não se consegue ver daqui.
Chorou em silêncio,
Chorou em silêncio,
chorou até desidratar e retomar o equilíbrio dos electrólitos e da água que perdeu.
O sol rasgou o pano, escorregou a mágoa para a nuvem mais próxima e voou para longe.
Mais longe do que é perto, mais longe do que é parte.
Depois veio a noite e de mansinho
desenhou um ponto de luz em cada constelação vazia.
Que o tempo acarinhou, sem medo de se perder.
O sol rasgou o pano, escorregou a mágoa para a nuvem mais próxima e voou para longe.
Mais longe do que é perto, mais longe do que é parte.
Depois veio a noite e de mansinho
desenhou um ponto de luz em cada constelação vazia.
Que o tempo acarinhou, sem medo de se perder.
Up-to-know: offline
A memória é uma faculdade mental ou um processo neurológico, no mínimo, útil.
No entanto, fazer dela, (e de forma ridícula), o alvo principal de um exame de avaliação final, depois de um semestre de trabalho, aulas e estudo, não me parece, eufemísticamente, uma estratégia muito feliz.
Ainda por cima num tempo em que as bases de dados abundam nos consultórios médicos. E sabendo que não é, de todo, memorizável, a capacidade de agir com base nesses dados e naqueles que cada situação particular oferece.
Pensar, comunicar o que se pensa, agir atendendo aos anteriores. Nada disto é objecto de avaliação, directa ou indirectamente.
Supõe-se, portanto, que nada disto deva ser útil na prática clínica
(e não clínica.)
Apetece perguntar:
Where did you sleep last exam?
Em quarto crescente
a lua do outro lado da noite, o cansaço cá dentro. uma janela comum.
não é porque sim, não é um cansaço simplesmente cansaço.
tem nomes e lugares, causas e objectivos. é concreto.
por isso cresce, como cresce a lua, que ciclicamente se perde do tamanho que procura e constroi.
desta janela vê-se a lua crescer. mais longe, no tempo e no espaço, permanece talvez, acinética e serena,
como se todo o cansaço fosse em vão.
-
como quem fotografa
- assim escrevo por vezes.
o alvo é um longínquo que passou, é ou poderá ser, sem nunca deixar de se fazer real,
real como as palavras o imitam.
gasto o rolo conhecendo dele apenas o princípio
e o fim
(sempre à procura da certeza que a liberdade oferece)
o resto são diapositivos, (entre negativos a que a vontade assiste),
de uma arte que aprendo enquanto divago, perdida,
ou quando (me) encontro:
aqui, bem perto, uma luz tão efémera como a de um flash.
o alvo é um longínquo que passou, é ou poderá ser, sem nunca deixar de se fazer real,
real como as palavras o imitam.
gasto o rolo conhecendo dele apenas o princípio
e o fim
(sempre à procura da certeza que a liberdade oferece)
o resto são diapositivos, (entre negativos a que a vontade assiste),
de uma arte que aprendo enquanto divago, perdida,
ou quando (me) encontro:
aqui, bem perto, uma luz tão efémera como a de um flash.
k
que sentidos na procura de um sentido
ou que sentido na vontade de sentido.
se nos basta, a ausência de sentido como único sentido possível,provável ou credível.
e que utilidade, a da lógica, traduzida em meias palavras, sofridas e incompletas da dor e dúvida que assistem.
...
“Acreditamos nos princípios mecânicos do Universo; não em milagres.
Através da ciência, aprendemos que o lugar que habitamos é apenas um planeta duma só estrela perdida numa galáxia entre muitas outras. E tal como parecemos perdidos no meio da imensidão do universo exterior, assim a ciência nos levou a desenvolver uma imagem de nós próprios como sendo inevitavelmente governados por forças internas não sujeitas à nossa vontade – por moléculas químicas do cérebro e conflitos do subconsciente que nos obrigam a sentir e a nos comportarmos de determinadas formas quando nem sequer temos consciência do que estamos a fazer.
Também a substituição dos nossos mitos humanos por informação científica nos causou uma sensação de ausência de sentido pessoal.
Que significado poderemos ter, como indivíduos ou como raça, dominados por forças químicas e psicologias que não compreendemos, invisíveis num Universo cujas dimensões são tão grandes que nem a nossa ciência as consegue medir? […]”
Scott Peck, in O Caminho Menos Percorrido
Em plena época de estudo para exames
é preciso alimentar o espírito, descansar o corpo, ouvir só o que deve ser escutado.
E combater a força da entropia com a sabedoria do querer-ser.
É preciso escutar cada pedacinho de céu.
não como se fosse o último,
mas como se fosse durar para sempre.
Axiomas imperfeitos
"O amor é um sentimento"
Diz-se frequentemente: o amor sente-se. O coração palpita e a palavra de ordem é “amo-te”.
Mais raramente, há quem argumente que amar é uma escolha, um resultado da razão consciente que opta por querer o bem da pessoa que se ama. M. Scott Peck (1936-2005) define-o como “ a vontade de expandir o Eu com o objectivo de alimentar o seu próprio desenvolvimento espiritual ou o de outrem” (in O Caminho Menos Percorrido).
Diz-se frequentemente: o amor sente-se. O coração palpita e a palavra de ordem é “amo-te”.
Mais raramente, há quem argumente que amar é uma escolha, um resultado da razão consciente que opta por querer o bem da pessoa que se ama. M. Scott Peck (1936-2005) define-o como “ a vontade de expandir o Eu com o objectivo de alimentar o seu próprio desenvolvimento espiritual ou o de outrem” (in O Caminho Menos Percorrido).
Para concretizar a lucidez do pensamento deste psiquiatra e autor americano, talvez seja interessante apontar alguns dos inúmeros absurdos praticados por parte de quem diz sentir amor mas só semeia solidão, frustração, depressão e ansiedade: relacionamentos repetidos, fugazes e vazios, nunca assentes numa base de compromisso consciente e responsável, dependências e obsessões, ciúmes, por pessoas que dizem amar mas não concretizam mais do que a vontade consciente ou inconsciente de satisfazerem uma necessidade ou desejo próprios.
"Amar é sofrer "
Mas e então, não se diz por ai que amar é sofrer? Que amor é fogo que dói..
Mas e então, não se diz por ai que amar é sofrer? Que amor é fogo que dói..
Penso que amar implica uma boa dose de sofrimento, mas um sofrimento que é legítimo, inevitável. Por exemplo, veja-se o caso do amor próprio. Questionar preconceitos, arriscar no vazio, confiar, não é doloroso? E no entanto urge fazê-lo se nos estimamos e queremos amadurecer a capacidade de sermos felizes, ficar aptos para amar e agir em função do bem do outro. Contemplar e perdoar os nossos erros e imperfeições, mesmo aqueles que o tempo já quase enterrou, não nos leva tantas vezes ao desespero? Há algo mais difícil do que cumprimentar os nossos fantasmas com a cabeça erguida?
Gosto de pensar que estamos prontos para amar alguém quando conseguimos entender que conseguimos não amar esse alguém. Traduz a genuinidade da opção que se toma, assente na verdadeira capacidade de amar com liberdade. Um amor assim projecta, em vez de fechar, como tantas vezes acontece.
"Procurar um sentido para a vida"
Acontece muitas vezes termos como perdidas pessoas que dizem com corpo e alma que procuram incessantemente um sentido para a vida. Respeito, talvez até entenda. Até porque quem procura eternamente não anda certamente perdido. No entanto, o que me parece ser uma atitude de genuína coragem é a de quem se atreve a dar um sentido à vida, em vez de esperar que seja a vida a servi-lo numa bandeja forrada de tempo e experiência.
A importância de dar um sentido à própria vida devia ser ensinada. Como devia ser ensinada a competência de saber ouvir, tal como defende Scott Peck, não se valorizando apenas a capacidade da retórica ou da escrita argumentativa, ainda que esta seja útil ao desenvolvimento da primeira.
Custa-nos aceitar os discursos vazios de políticos e administradores, os clichés que pregamos uns aos outros, os buracos que tapamos com retalhos de circunstância gastos. Mas talvez pior do que isso seja constatar que não entendemos que ninguém nasce já amado, nem ensinado, e que inevitavelmente a morte, em sentido real e figurado, é a única capaz de nos remeter à sabedoria do silêncio...
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transcritos do intermitente
dúvidas?, sim.
mas não é sobre os mecanismos de acção, os efeitos adversos ou o uso terapêutico.
por favor, não perguntem se tenho dúvidas,
quando apenas pedem que seja papel absorvente, despido da oportunidade de pensar e relacionar conceitos, adivinhar sentidos -
- sentidos em corredores labirínticos que cruzam a farmacologia com a falência terapêutica (também designada morte).
E por favor, não me levem as palavras.
Porque entre elásticos, transferências e outros mecanismos internos de gestão e digestão de emoções, estas palavras são fieis aos transcritos de uma isquemia intermitente, e devolvem sem custos um silêncio lúcido e nítido, eficaz e concentrado daquilo que vale a pena,
(ainda que a alma não seja tão grande como a incerteza).
luto.
com letra minúscula, como quem transcreve uma dor menor.
com ponto final, para fingir o sentido que nunca se encontra quando o fim é concreto. a prateleira vazia quando a alma sofre e não deixa ver mais longe.
por mais bagagem que a vida nos obrigue a suportar, nunca estamos preparados para a morte.
Podes dizer
Da solidão em rede.
Facebook, Twitter, Messenger, hi5, Flickr, youtube, blogues, são exemplos das chamadas “redes sociais” que prendem qualquer um ao ecrã. Da vertente pessoal à mais profissional, com o intuito de vender ou apenas ver, os “amigos”, “seguidores”, “membros” proliferam a uma taxa vertiginosa, pelo que as empresas de marketing já não podem ignorar esta sociedade que se exprime através das teclas. E atrás de um ecrã, na verdade, estes cidadãos são capazes de quase tudo: desde combater a fome em África a protestar contra as portagens; trocar ideias para um trabalho académico ou resolver discussões ao ritmo do silêncio picotado pelas falanges cansadas.
Paradoxalmente, o tempo encurta porque em cada pedaço cabe muito mais. E as palavras degeneram os sentidos quando o espaço a tal obriga. É difícil negar a visibilidade do efeito de aglutinação, do peso da imagem que passa, ou da vida que se escreve com meia dúzia de caracteres num perfil formatado. Por aqui a vida é rápida, mas vai ficando cada vez mais rara à medida que a solidão se torna no parênquima (dis)funcional destas redes.
É talvez ainda cedo para avaliar o impacto que esta nova forma de socializar poderá ter. No entanto, já existem publicações que indagam sobre a possibilidade de alterações na estrutura de aprendizagem das crianças que hoje vêm ecrãs saltitantes em vez de quadros de giz fixo, ou que fazem pesquisa de informação sem precisarem de saber como folhear um livro numa biblioteca. Por outro lado, o sedentarismo a que estes novos modos de socializar obrigam deixa a sua marca e o seu peso: os profissionais de saúde conhecem-no bem demais. Por sua vez, a ciência escreve que fomos feitos para caçar ou fugir, e não para fixar o olhar horas a fio curvados numa cadeira paralítica.
Falo de solidão porque é disso que me lembro quando leio os comentários vazios de quem mostra muito pouco para ser nesse muito que expõe. Há mais vida para além daquela que imana do muro que nos cola ao silêncio: não somos apenas aquilo que dizemos a escrever, precisamos também daquilo que se revela no instantâneo do tempo que passou, sem ter sempre a medida exacta dos registos confidenciados ao teclado; precisamos de transpirar o corpo exausto de vida vivida, de chorar de dor e rir alto quando tiver que ser; de corar e ter vontade de desaparecer quando ouvimos mais do que aquilo que gostaríamos. Precisamos disso tudo para sermos pessoas menos sós. Com rede social (ou bóia de salvação) sempre presente, há uma parte da vida que se descarta ou reduz.
Acordar a meio da noite para alimentar um animal virtual de uma quinta inventada, há uns tempos atrás, lembraria muito pouco uma personalidade saudável. O mesmo para os exércitos de crianças, adolescentes, jovens e pseudo-adultos mimados e frustrados, habituados desde cedo à rapidez dos “copy & paste” e das pseudo-relações que nunca lhes privaram o sono. Há insucesso escolar e violência, desequilíbrios mentais, emocionais e sociais, e ninguém entende porquê. E fala-se de suicídio como se de uma opção de vida simplória se tratasse. (Quase como quem opta por ir ao supermercado sempre que a vida é demais.) É um facto que há tentativas de pôr fim à vida que nenhuma aproximação à razão entende, mas não se pode reduzir tudo à ignorância jornalística de quem tem interesses que nenhuma tentativa de aproximação à profissão pode aceitar.
Simpatizo pouco com acessos de fúria de Velhos do Restelo a reclamar da hegemonia das tecnologias. Mas há momentos em que a confusão e desvario social são de tal amplitude que não é possível ignorar-se que a proliferação das redes sociais sem argumento nem fundamento terá que ter consequências mensuráveis para alguém. E é pena se forem os psiquiatras os primeiros a terem consciência desses números que a solidão em rede multiplica.
Cs, Abril 2010
De que morte temos medo?
E a dor?, perguntou a si mesmo. Que é dela?
Então, dor, onde estás tu? Ficou atento.
Sim, cá está ela. Pois bem, deixá-la doer.
E a morte? Onde está ela?
Então, dor, onde estás tu? Ficou atento.
Sim, cá está ela. Pois bem, deixá-la doer.
E a morte? Onde está ela?
(Tolstoi, A morte de Ivan Ilitch)
Cs, in "A Voz do Minho", Março de 2009
Regresso a Casa
Nem sempre me é fácil despir os sentimentos de metáforas e imagens para escrever apenas com aquilo que as palavras dizem. Mas há momentos em que a vida se faz tão transparente e quente que a alma permite sem prejuízo descartar-se de agasalhos que subtraem à partilha a intimidade.
Por outro lado, nem sempre o tempo permite sentar a vida ao espelho ou observá-la pelo retrovisor. Não é todos os dias que nos permitimos a um exercício de ecologia mental. Mais do que higienizar, ser-se capaz de reciclar os fantasmas e, por cada pensamento vazio ou emoção recalcada, recriar lucidez e vontade de amar.
Somos feitos de uma substância difícil – um complexo de emoções incerto, equações de pensamentos com mais incógnitas do que aquelas que a vida consegue igualar; uma substância paradoxal em potência e na experiência concreta que desenha. É fácil deprimir, respirar ansiedade, ter medo de deixar de existir. A fragilidade substitui a resiliência sem pedir autorização. E não são apenas as razões, as emoções, ou apenas a história. É o conjunto das circunstâncias revestido de um véu denso de incompreensões, falsas lógicas, fisiologias disfuncionais, acasos e receios. E tudo o que disso resta.
Em fases mais críticas, felizmente mais pontuais do que recorrentes, não é difícil acordar a meio da noite em sobressalto porque a bagagem que nos obrigam a carregar é demasiado pesada para que com ela se possa descansar, quanto mais caminhar com as mãos livres. O erro dos outros torna-se a má intenção que alimenta a intolerância, frustração e desconfiança. Tudo é tremendamente assustador e o medo de ter medo paralisa a mente em asfixia. (Quando isto acontece, já o coração necrosou, enfartado de relações mal digeridas.)
Como é que se atravessa uma crise? Quem nos oferece a chave que abre o sepulcro onde a alma jaz adormecida?
É sempre bom podermos contar connosco mesmos mas, como actores de uma história gratuita, precisamos de um público que dê cor ao papel que encenamos. Que esteja presente mesmo quando o pano cai. (Sem dizer adeus.)
“Nem sempre o chão da alma é seguro/ nem sempre o tempo cura qualquer dor”.
Mas não pode haver impedimento à vida maior do que a vontade de a agarrar e realizar.
Ninguém me impede de contornar hábitos e conceitos regrados só porque quero estar perto do lugar e das pessoas que me contam a origem do que sou, com todas as pausas e silêncios a que a proximidade obriga; de cumprimentar os meus fantasmas ou acordar de mão dada com o fermento que resta dos sonhos atirados ao mar pela mesma força mística que os devolve quando o sol se põe; de colorir numa tela o quotidiano dos dias concretos e felizes; de desligar os ecrãs onde as sociedades e os amigos vivem em redes que tornam o diálogo míope, para pedalar ou correr sem rumo nem alertas de chegada.
Ninguém me impede de procurar a alquimia nas relações, de mim comigo mesma e com aqueles com quem divido o dia de todos os dias; de escutar esperança na dor sentida e acordar mais cedo só para ver o sol desenhar-se no vidro da janela ou oferecer ao papel palavras que preenchem o coração e desatam mágoas que já não são úteis.
Ninguém me impede de oferecer à vida pedaços de silêncio embrulhados num cobertor de ternura como quem protege uma oração no rosto de uma criança que dorme.
Devo ter algures cravado na alma um mapa de mistérios com destino e direcção. Daí que tantas vezes pare para sentir que estou perdida.
Perdida quando tudo em mim é um regresso à casa que sou e quero ser.
l
lCoração paradigmático
Para Goleman, o reinado do QI deve ceder o lugar ao do QE (quociente emocional). «O antigo paradigma baseava-se no ideal de uma razão liberta da pressão da emoção. O novo paradigma convida-nos a harmonizar a cabeça com o coração. Devemos compreender mais precisamente o que significa:
utilizar a emoção inteligentemente.
utilizar a emoção inteligentemente.
in "A Inteligência do Coração", por Isabelle Filliozat
Casa do medo, casa da Esperança
O Hospital como Lugar de Esperança
A última palavra
Da minha boca.”
(Miguel Torga)
[...] Afinal, não será de todo ridículo sublinhar o contracenso: mais esperança no tempo, menos tempo para a esperança.[...]
CS, in "A Voz do Minho"
Abril de 2009
Muralha
Um lugar onde nada existe mas onde subsiste sempre e para sempre a âncora que nos devolve à vida.
Um tempo sem tempo onde tudo pára para experimentar a eternidade que se desenha.
Mesmo quando as lágrimas desidratam a vitalidade do corpo e mente exaustas, há um aqueduto sagrado que as transporta para longe da estrada onde a luz se faz.
Há sempre uma muralha perene onde agarramos a alma como um tesouro oferecido sem remetente.
S.O.S.
Save Our System
Eram duas depois do meio daquela noite. Entrou, cuidadosa, e sentou-se.
Tinha tosse. Congestão nasal e episódios de afonia recidivantes.
- e como é que se chama?
Esqueceu a resposta. E continuou.
Estava mal, era de noite e tinha falta de ar.
- dispneia?
Não entendeu e prosseguiu o relato da dor que ninguém via. Nem a gasimetria, nem o esfigmomanómetro, ainda menos o ECG. Os sinais vitais diziam que estava normal.
- normal.
Mas tinha perdido 20 kg desde o ano passado. Uma cirurgia para redução mamária e um prontuário terapêutico móvel. A culpa era do sistema nervoso.
- mas de doenças, não tem mais nada?
- não durmo.
- pela dispneia? Pela tosse? Tem dor?
- não. Deve ser do sistema nervoso.
Padrão de sono normal – registou.
- Para além do antibiótico e do broncodilatador, não toma mais nada?
- de medicamentos não. Só tomo uns comprimidos para o sistema nervoso.
Normal.
Raio-x torácico normal.
Diagnóstico diferencial com a vida: não tinha nada. Apenas sofria.
Mas a base de dados não conhecia a palavrasofrimento.
imagem:http://blog.apeloeh.com
Eram duas depois do meio daquela noite. Entrou, cuidadosa, e sentou-se.
Tinha tosse. Congestão nasal e episódios de afonia recidivantes.
- e como é que se chama?
Esqueceu a resposta. E continuou.
Estava mal, era de noite e tinha falta de ar.
- dispneia?
Não entendeu e prosseguiu o relato da dor que ninguém via. Nem a gasimetria, nem o esfigmomanómetro, ainda menos o ECG. Os sinais vitais diziam que estava normal.
- normal.
Mas tinha perdido 20 kg desde o ano passado. Uma cirurgia para redução mamária e um prontuário terapêutico móvel. A culpa era do sistema nervoso.
- mas de doenças, não tem mais nada?
- não durmo.
- pela dispneia? Pela tosse? Tem dor?
- não. Deve ser do sistema nervoso.
Padrão de sono normal – registou.
- Para além do antibiótico e do broncodilatador, não toma mais nada?
- de medicamentos não. Só tomo uns comprimidos para o sistema nervoso.
Normal.
Raio-x torácico normal.
Diagnóstico diferencial com a vida: não tinha nada. Apenas sofria.
Mas a base de dados não conhecia a palavra
imagem:http://blog.apeloeh.com
Rascunhos paralelos
riscos horizontais recalcados a tinta negra numa folha branca, não são apenas nada.
riscos horizontais recalcados com a mão firme são a ponte para a sensibilidade de quem escuta mais do que aquilo que se vê.
riscos horizontais recalcados com a mão firme são a ponte para a sensibilidade de quem escuta mais do que aquilo que se vê.
Estes riscos horizontais partilhados tornam-se rectas infinitas de uma verticalidade possível.
riscos, que são?
traços reais para aqueles que perscrutam quem somos.
imagem (adaptada): ardemares.blogspot.com
riscos, que são?
traços reais para aqueles que perscrutam quem somos.
imagem (adaptada): ardemares.blogspot.com
With every beat
.. of my heart,
e nem isso basta.
por vezes a expectativa deve cingir-se apenas à fidelidade das palavras que viajam pelas mãos que bordam as margens e os limites. - e suster a respiração para não ouvir -. como estas.
(mesmo aquelas que ficam por dizer, não descartam a lealdade ao pensamento a que dão forma. felizmente.)
A Carta
Remetente: Casa de Sonhos
Destinatário: À procura de um ideal
A carta chegou logo no dia seguinte.
Não devo saber ainda como agradecer a urgência das palavras que desenham o afecto, mas devolvi a resposta assim que encontrei uma caixa de correio por perto. Gosto deste ritual. Do cheiro a sinceridade na tinta do papel, da humildade em cada pensamento embutido nos factos partilhados. E arrepia-me pensar que às vezes um e-mail ou uma mensagem de telemóvel ficam suspensos só porque não apeteceu, quando sinto o tacto nas ranhuras de um postal feito com as mesmas mãos que o desenharam:
“Só quem tem um ideal encontra razões para viver.“
Na memória que o seu nome me oferece, a Maria vive numa Casa de Sonhos. O lugar onde a amizade se escreve com letra maiúscula, e onde a fé reside à cabeceira da alma, só pode ser uma Casa de Sonhos. E não deixa de ser também uma Escola de Medicina, aqui onde as limitações são constantes; aqui onde a morte acontece mesmo ao lado da vida que se celebra. Aqui onde se aprende o valor de cuidar dos eternos residentes que serão para sempre.
“Hoje em dia tem que se lutar muito pelo que queremos”, lembra-me.
Escuto e escrevo. Sei das lutas e do sofrimento, sei da mágoa e do vazio. E das desilusões. Como sei das pequenas conquistas, dos pequenos nadas. Das palavras que transportam o silêncio e o olhar dos que estão de bem com a vida.
Celebramos a partilha das palavras ditas, trocamos o sol e vimos o coração fotografar um abraço terno.
Da emoção ao alvo terapêutico
Não deixa de ser interessante verificar que grande parte das emoções que expressamos podem constituir sintomas de determinadas patologias.
A ansiedade. Se por um lado é uma forma de reagir antecipadamente a algo que se antevê difícil ou doloroso, também chamada “o medo sem rosto”, por outro lado, quando generalizada e desadequada ao estímulo, tem direito a categorização psiquiátrica.
O medo, possível motor de confronto e transgressão, predomina nos síndromes fóbicos, sendo causa de intenso sofrimento e incapacidade.
A tristeza como forma de adaptação à perda, um ingrediente ao luto necessário e saudável, é também o combustível que move a alma sem pressão. Ainda que sem lágrimas, apáticas e indiferentes, por vezes, as depressões conhecem bem a tristeza expressa.
A raiva, mecanismo de auto-defesa, resposta possível de auto-preservação, quando acumulada, além de corroer os pedaços de serenidade que ajudam a embalsamar a alma, pode estar associada à agressividade patente em crimes diversos.
Mais uma vez, é ténue a fronteira entre a emoção expressa no contexto de uma personalidade em confronto e esta como causa de mal estar psíquico, porque desproporcionada em relação ao estímulo que a causa, ou mesmo, persistindo na ausência de qualquer estímulo desencadeante.
Existe uma diversidade de fármacos disponíveis, e alguns deles são usados erradamente em situações que fazem parte do quotidiano normal e, como tal, essenciais ao desenvolvimento emocional. Eliminando-as, pode estar a contribuir-se para um desequilíbrio emocional: não é doença ter medo, estar ansioso ou triste, “É melhor ter os nervos como cabos/Entre a cidade Não e a cidade Sim”(Ievtuchenko)
A ansiedade. Se por um lado é uma forma de reagir antecipadamente a algo que se antevê difícil ou doloroso, também chamada “o medo sem rosto”, por outro lado, quando generalizada e desadequada ao estímulo, tem direito a categorização psiquiátrica.
O medo, possível motor de confronto e transgressão, predomina nos síndromes fóbicos, sendo causa de intenso sofrimento e incapacidade.
A tristeza como forma de adaptação à perda, um ingrediente ao luto necessário e saudável, é também o combustível que move a alma sem pressão. Ainda que sem lágrimas, apáticas e indiferentes, por vezes, as depressões conhecem bem a tristeza expressa.
A raiva, mecanismo de auto-defesa, resposta possível de auto-preservação, quando acumulada, além de corroer os pedaços de serenidade que ajudam a embalsamar a alma, pode estar associada à agressividade patente em crimes diversos.
Mais uma vez, é ténue a fronteira entre a emoção expressa no contexto de uma personalidade em confronto e esta como causa de mal estar psíquico, porque desproporcionada em relação ao estímulo que a causa, ou mesmo, persistindo na ausência de qualquer estímulo desencadeante.
Existe uma diversidade de fármacos disponíveis, e alguns deles são usados erradamente em situações que fazem parte do quotidiano normal e, como tal, essenciais ao desenvolvimento emocional. Eliminando-as, pode estar a contribuir-se para um desequilíbrio emocional: não é doença ter medo, estar ansioso ou triste, “É melhor ter os nervos como cabos/Entre a cidade Não e a cidade Sim”(Ievtuchenko)
Outra situação particular, que é considerada dopping, é a ingestão de bloqueadores beta (fármacos com utilidade na sintomatologia ansiosa) para diminuir o trémulo em jogadores de tiro ao alvo.
Curioso que a palavra patologia, vem do grego pathos (sofrimento, paixão, doença) e logia (ciência, estudo), estando ligada ao “padecer” no campo da filosofia. Um conceito que concretiza a relação entre emoção e doença, elucidando a possibilidade de um caminho entre aquela e o alvo terapêutico nesta última.
imagem: http://www.flickr.com/photos/manfrommanila/2365781490/
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psiquiatria
Podes dizer VI
do mau tempo. Entre traços e riscos.
[..] porque a chuva ritmada obriga a memória a procurar agasalhos no sótão. No mesmo sótão onde nos contaram a história de quem nos tornamos, em vários capítulos.
Entre traços ou riscos, porque na ténue fronteira entre aquilo que define a nossa personalidade e aquilo que nos torna vulneráveis ao desequilíbrio, à perturbação. Não é um assunto pacífico. Não apenas porque os limites entre o patológico e o normal permanecem incertos, como também pelo facto de a personalidade ser mutável e vulnerável apenas dentro de um contexto, de uma história. O que é certo talvez, é que uma vez responsáveis pelo que sabemos de nós, somos também livres para optar fazer dos traços riscos ou, pelo contrário, sulcar bem fundo dos primeiros, aceitá-los e aprender a fazer deles refúgio seguro. Entre ventos e marés, é bom saber que podemos sempre contar connosco mesmos. [...]
Entre traços ou riscos, porque na ténue fronteira entre aquilo que define a nossa personalidade e aquilo que nos torna vulneráveis ao desequilíbrio, à perturbação. Não é um assunto pacífico. Não apenas porque os limites entre o patológico e o normal permanecem incertos, como também pelo facto de a personalidade ser mutável e vulnerável apenas dentro de um contexto, de uma história. O que é certo talvez, é que uma vez responsáveis pelo que sabemos de nós, somos também livres para optar fazer dos traços riscos ou, pelo contrário, sulcar bem fundo dos primeiros, aceitá-los e aprender a fazer deles refúgio seguro. Entre ventos e marés, é bom saber que podemos sempre contar connosco mesmos. [...]
The Blind Side
ou Um Sonho Possível, em português fácil.
um drama bem-disposto, que não precisou de uma grande história para fazer passar uma mensagem com conteúdo. A capacidade de se amar e sentir amado como condição necessária a um desenvolvimento e integração harmoniosos; a valorização do compromisso e conhecimento do outro, os quais conduzem ao sucesso perante as adversidades; a irreverência saudável que dá colorido às atitudes e relações. E em pano de fundo as marcas de uma luta social entre negros e brancos.
Em 128 minutos, a razão e a (não)razão de acreditar nas pessoas, na vida e no destino. E concretizar.
Da consciência ao conflito
Um dia destes falaram-me do Fernando Pessoa consciente da dor de pensar. Pensar é estar doente dos olhos, dizia Caeiro. Na verdade, pensar é uma condição, às vezes necessária e suficiente, para trazer à mente e ao espírito a consciência dos obstáculos, mágoas e fragilidades. E a consciência amplifica a dor, porque a devolve presente (e permanente enquanto dura).
Por outro lado, há quem acredite que longe da vista, longe do coração. Diria antes, longe do coração, longe do pensamento. Porque na verdade, a distância não apaga a consciência, embora contribua para tornar difusas as memórias, porque estas não estão continuamente a ser estimuladas.
Não penso que a atitude de pensar seja errada (e isto é a prova) ou que substitua aquela que respeita ao sentir. Quando muito, é desnecessária, se esperamos que o pensamento resolva, quando neste nada existe de concreto, palpável. Mas não resolvendo pode tornar algo resolúvel. Diz a tradição budista que os pensamentos movem o mundo. Os pensamentos como base e combustível para algo de realizável.
Desnecessária e dolorosa também, se não conseguirmos arrumar a vida em prateleiras estáveis e continuarmos a circular, sem perspectivas de ancorar a história em porto seguro.
Mas apesar de tudo isso, (que não é pouco), pensar contrasta com a atitude impulsiva e por vezes pouco sensível daquele que reage sempre, (defendendo-se dele próprio); é a forma de encontrar as razões que ajudam a fechar gavetas e ajustar os factos e os não factos nas prateleiras; é aquilo que pode permitir amadurecer a mágoa porque confronta o presente com o egoísmo próprio, que esquecemos mais facilmente do que o egoísmo alheio; é, no fundo, o mecanismo interno, abstracto, que leva a razão a escrever o verbo perdoar.
Reformulando: Do conflito à consciência. E desta ao ponto final.
(pensar mal é estar doente. Mas saber pensar é quase sempre motor de vitalidade.)
Nem só de pensamentos vive um blogue
detesto (pseudo-)atitudes embebidas de um carpe diem vazio e disforme.
Mas hoje apetece-me ouvir - days go by - apenas porque sim. Faz vento e há estrada... So you better start livin' right now...
Absurdos Sentidos
A vida é tão rara,
entre avanços e recuos, tempos e contra-tempos, em contra-relógio em direcção ao rumo que se sente perdido à priori. Procurar em vão o que queremos, que se revela ser aquilo que a vida não quer. nem pode explicar. nem queremos entender. Dar. ainda que o façamos sem passar factura para que a memória não atraiçoe o que se recebe.
Sem saber, a procurar não deixar de querer não saber. porque às vezes cansa tocar o limite do que é certo, fazer tudo certo, e ver que afinal o rosto e a alma agarrados ao peito jazem isquémicos e vazios.
Por isso respiro mais fundo, pelo abdómen - respiração completa - para expirar das lágrimas e das mágoas e ficar apenas com o que pode ficar. com o que quero revisitar amanhã quando acordar deste sono de absurdos que sinto, sem sentido. que não consigo crer nem entender.
Cultura Entre Culturas
Cultura ENTRE Culturas é uma revista semestral dedicada ao diálogo intercultural e a estabelecer pontes e mediações entre todas as disciplinas, saberes e tradições. Publica ensaio, poesia e fotografia. A partir do mês de Abril.
Dialogal entre cultura e saber, religião e espiritualidade, tradição e civilização, entre tal coisa e cada outra coisa, Entre é um âmbito situado, mas não-localizável, entre tempo e eternidade, espaço e vacuidade, palavra e silêncio, discurso e percurso. É o lugar do não-lugar: entre tudo e nada, entre tudo e o quase nada que há em tudo.
estas e outras informações:
http://arevistaentre.blogspot.com/2010/03/cultura-entre-culturas-uma-revista.html
Tratamento da depressão: cuidados primários ou especializados?
não deixa de ser interessante verificar que, dado o estigma e por vezes a ignorância, no que refere à doença depressiva, bem como a existência de recursos, ao nível das USFs, não especializados mas suficientemente qualificados, o tratamento destas doenças na vertente dos cuidados primários poderá ser tão eficaz como aquele que é feito pelos cuidados psiquiátricos especializados...
Does Depression Matter?
retirado do artigo Keys to Successful Treatment of Depression in Primary Care CME
Thomas L. Schwartz, MD; Ann M. Sweet, RN, BS, NPC
At the outset, clinicians have to realize that major depressive disorder (MDD) is a common illness. MDD is highly comorbid with other common medical conditions and is often chronic in nature. Depressive comorbidity often worsens medical outcomes and increases healthcare utilization. The public health impact of MDD was noted in the Medical Outcomes Study, which determined that depression was more impairing in terms of patient functioning and well-being than arthritis, diabetes mellitus, and hypertension, among others, and is more disruptive for social functioning than all of the chronic medical conditions compared in that study. Moreover, the Global Burden of Disease study suggests that by the year 2020, MDD will be the second leading cause of death and disability worldwide.
k
Finally, MDD is likely the most frequently treated psychiatric disorder, and antidepressants may be some of the most frequently written medications in all of medicine. If clinicians fail to understand these initial key facts about MDD, then they will have greater difficulties seeing the reasons behind routine screening for its presence, and employing the eventual corresponding treatment options.
The positive news is that with systematic assessment and treatment, patients respond just as successfully to depression treatment in the primary care setting as in specialized psychiatry practices.
Tatuagens e um mergulho no mar
Simpatizo pouco com aqueles que se debatem pela apologia do sofrimento e menos ainda com os clichés que usam para defender Deus num pseudo-julgamento que ainda ninguém inventou. Já aqui o disse.
No entanto, é inevitável que a vida nos magoe. Como inevitável é por vezes a raiva que corrói a alma e ajuda a apertar o coração de forma circular e absurda. Porque não nos faz bem, nem faz bem àqueles que intersectamos.
Faz-se o luto pela fé que morreu, enterra-se a mágoa e espera-se pela manhã. Para ver o sol nascer com a esperança.
Como quem dá um mergulho sem olhar para trás, um salto no ar só para ver de que se é capaz. Nunca se tem muito a perder.
Tantas coisas por fazer, tantas por inventar.
Mais uma vez*. Levanto-me para ver de que cor é o céu quando está azul límpido. Sem nuvens.
E apenas isso é para já o bastante para ver a noite cair, com um sorriso esboçado no rosto.
(*um mergulho no mar, Xutos & Pontapés)
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